quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Análise da LLX

Agora vou fazer algumas contas de padeiro para estudar as perspectivas futuras da empresa LLX, que possuí um porto em construção chamado de Superporto do Açu próximo a cidade de Campos no estado do Rio de Janeiro. A empresa deve ter o porto operacional no final de 2013 e para isso vai ainda precisar investir 0,2 bi nesse final de ano, 1 bi em 2013 e 0,5 bi em 2014.

A empresa tem receita vinda de aluguéis de outras empresas que tem áreas no porto, além também da mineradora Anglo Américan que vai exportar minério de ferro através deste porto. A seguinte tabela resume os atuais clientes da LLX:

EmpresaEmpreendimentoInvest.Início
pagam.
Receita
p/ LLX
Área
(mil m2)
Duração
(anos)
Anglo AmericanTerminal de Minério0,9 bi???190 bi US$?25
MPXTermoelétricas6,1 bi?9,2 mi224435
OSXEstaleiro1,7 bi?28 mi320040
National Oilwell
Varco
aluguel de área c/
frente de cais

20/8/118 mi12220
Technipaluguel de área c/
frente de cais

18/11/1122 mi28925
InterMooraluguel de área c/
frente de cais

2/12/113,6 mi5220
Subsea 7aluguel de área c/
frente de cais

25/5/1221 mi?10

São bons aluguéis, mas vamos continuar nossas contas agora falando das dívidas e investimentos. Considerando investimentos esperados de 1,7 bi e caixa de quase 0,9 bi, ainda falta uma diferença de 0,8 bi que terá de vir de novos empréstimos. Os aluguéis atuais estão em 92 mi, que não cobrem nem as despesas administrativas e gerais que estão em torno de 160 mi por ano e também não cobrem os juros, que já devem estar em 150 mi por ano considerando juros de 8% aa (e olha que possivelmente é mais heim!). Então o endividamento total daqui a dois anos será provavelmente o atual de 1,85 bi 0,6 bi p/ investimentos 0,3 bi para cobrir juros = 2,75 bi que dá 220 mi somente de juros por ano. Então somando tudo:

+92 mi de alugueis
+190 mi US$ de renda vinda da Anglo American com exportação de minério, supondo que vai começar a receber já em 2014
-220 mi de juros
-160 mi de despesas administrativas e gerais
=lucro de 92 mi por ano

Com a cotação atual de 1,9 isso dá P/L de 14
Se a cotação cair p/ 1,5 daí teriamos P/L de 11

Lógico que os aluguéis podem aumentar muito, por exemplo se a Petrobrás se instalar lá, mas eu só considerei o que já tem contrato assinado. Pelo que os meus cálculos apontam, no momento atual as contas estão apertadas, mas qualquer novo contrato de aluguel ou outro uso do porto iria aumentar o lucro consideravelmente.

Os dados podem ser obtidos no site da LLX: http://www.llx.com.br/ri/

Análise da AES Tietê - GETI

lá, alguns dias atrás eu escrevi uma iniciação ao mundo da análise de ações e agora vou aplicar esse conhecimento em mais um ativo: A AES Tietê - GETI3 ON e GETI4 ON, que é uma concessionária que detêm a concessão das usinas hidroelétricas no rio Tietê.

O principal fato sobre a AES Tietê que todos devem saber é que ela tem um contrato com a Eletropaulo que garante a venda de energia elétrica a R$180 por MWh, o que está muito acima da média de mercado no Brasil que está entre R$100 e R$110, e que este contrato dura até 2015 e depois disso a empresa vai ter que vender energia nos leilões. Esse fato faz com que ela seja ótima hoje, mas daqui a poucos anos sua receita vai cair muito. E como o custo de operação se mantêm o mesmo, o lucro vai cair muito mais ainda do que a receita.

Pelo lado bom ela não está sendo afetada pela MP 577 da Dilma e outras medidas da sargenta para atacar os lucros das empresas do setor de concessões elétricas no Brasil. As concessões da GETI3 só vencem em 2029, então ela está super segura nesse aspecto.

Bom, vamos agora analisar com calma cada ponto sobre a empresa:


Mudança contratual em 2015 -3

Conforme já explicado, vai haver uma mudança no contrato de venda de energia da empresa. Atualmente a empresa vende 88% de sua energia a R$180/MWh para a Eletropaulo e outros 12% a cerca de R$120/MWh. Isso dá um preço médio de R$172,8/MWh e considerando 8760 horas no ano, eu calculei ainda um fator de carga de 53%. O fator de carga indica a que fração da capacidade máxima instalada da empresa é utilizada durante o ano todo, em média. Assumindo que o fator de carga vai se manter o mesmo, o que é bem razoável pois hidroelétricas tem restrição ao quanto podem produzir dependendo das chuvas, podemos calcular qual seria a nova receita e o novo lucro e o novo P/L com a eletricidade a R$100/MWh e a R$120/MWh, conforme a tabela abaixo:
Cenário Geração(MW) Preço do MWh Fator de Carga Horas no ano Receita (M R$) Lucro (M R$) Cotação Número de ações (Milhões) Fator de ajuste
P/L da GETI3
P/L
Atual2658 172,8 0,53 8760 2150 968 19 381,25 1,05 7,8
2015 2658 100 0,53 8760  1234  52 19 381,25  1,05  147,5
2015 v2 2658 110 0,53 8760 1357 175 19 381,25  1,05 43,5
2015 v3 2658 120 0,53 8760  1481  298 19 381,25 0,95 25,5

Ainda sobre os dados, eu multipliquei o P/L da GETI3 por 1,05 para considerar o fato que a GETI3 recebe 10% menos de dividendos que a GETI4. A cotação que coloquei de R$19 é somente um valor recente de Novembro de 2012.

Como podemos ver nos dados, o resultado da mudança pode ser amargo, mas aceitável se a empresa vender energia a R$120, ou pode ser terrível se vender a R$110 e ainda pode ser uma catástrofe se vender a R$100. Acho difícil prever por quanto a empresa irá vender sua energia em 2015, mas temos que levar em conta que nos últimos leilões de nova energia o teto foi estabelecido em R$112 e que o governo do PT está focado em diminuir o preço da energia elétrica, assim é bem possível pensarmos que mesmo as possibilidades mais pessimistas são realistas...


Balanço atual fantástico +3

São poucas as empresas que tem um balanço fantástico, mas certamente a AES Tietê é uma delas: dívida que pode ser paga com o lucro de 1 ano, receitas e lucros vultuosos e crescentes, P/L baixo, dividendos saborosos, margem alta, etc.

Ano Patrimonio (M R$) Receita
(MNOK)
Lucro (M R$) Margem (%) Caixa Dívida Número de ações Cotação P/L Lucro por ação (R$)
2007 501 1448 609 42% 638 1297
2008 2142 1605 692 43% 840 1214
2009 2016 1669 780 47% 614 968
2010 1981 1754 737 42% 565 921

2011 1885 1885 844 45% 442 924

2012 2160 2160 98145% 292 940 381,25 19 7,8 2,57



Risco de intervenção governamental -3

Conforme já mencionado, o PT está com olho gordo pra cima das elétricas e a intervenção estatal pode significar a morte para qualquer um, como eu já vivi no passado quando o PT transformou a Petrobrás que era uma empresa modelo, um negócio fantástico capaz de gerar riqueza para o país, investimentir no nosso futuro e garantir a auto-suficiência no Petróleo ao mesmo tempo que gera renda para seus acionistas, em uma massa desgostosa que só serve para ajudar as necessidades eleitoreiras do PT, além de ter virado um cabide de empregos na aparelhação das estatais.



Concessão muito longe da renovação +1

Esse fato alivia um pouco o risco de invervenção estatal, já que a concessão da AES Tietê só vence em 2029.


Preço Justo em 2015 de R$9

Não vou dar nenhum ponto para esse item pois acredito que já está precificado nos items acima, mas se calcularmos o preço justo da ação utilizando a formula:
Preço Justo = Lucro por ação * (8,5 + 2 * Crescimento esperado em pct) * (4,4 / 7,25)
Considerando um preço de energia em 2015 de R$120, que é uma consideração até mesmo otimista, teremos um lucro total de aproximadamente 300 milhões o que dá R$0,79 por ação e em conjunto com um crescimento de 5% ao ano num preço justo de R$8,9, que eu arredondei pra R$9

Vale a pena considerar que o patrimônio total da empresa (1,9 bi) mais o caixa líquido (-548 mi) dá um patrimônio líquido de R$3,56 por ação. O valor patrimonial é importante para validar análises de preço justo, já que uma empresa a não ser em situação muito adversas não pode valer muito menos que seu patrimônio líquido. Assim R$9 é um valor bem possível pois ele ainda está quase 3 vezes superior ao patrimônio da empresa.

Então terminamos com um saldo total de -2 na minha análise geral.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Comentários sobre o fim dos trens de passageiros no Brasil

Meu pai me enviou o seguinte link, que me inspirou a escrever estes comentários:

http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/videos/t/edicoes/v/serie-de-reportagens-mostra-abandono-das-ferrovias-brasileiras/2237241/

Eu conheço muito bem essa história. O FHC fez muitas coisas boas, mas na questão ferroviária a gestão dele foi péssima. Tão recentemente quanto 1990 o Orestes Quercia havia comprado novos trens que andavam a 160 km/h para correrem ligando São Paulo com o interior do estado, e de fato há 2 trechos que foram completamente modernizados para o padrão de 160km/h no estado de São Paulo para o transporte de passageiros, e esse é um padrão excelente, usado na maioria das ferrovias da Polônia e só foi superado pelos trens-bala.

Mas daí no governo FHC as ferrovia do estado de São Paulo foi incluída na rede federal geral (RFFSA) que sucateou o sistema completamente e depois vendeu ele a preço de banana pra FERROBAN, uma empresa privada sem nenhum preparo para assumir a ferrovia paulista. A FERROBAN não tinha capital para investir nas ferrovias, ela simplesmente pegou um emprestimo pra começar a tocar a empresa, abandonou metade da malha e a outra metade foi tocando porcamente só com trens de carga. Foi a Ferroban que abandonou os trens de passageiros e foi o próprio governo que incentivou a isso. Pois o governo passou a cobrar uma taxa alta anual das concessionárias, além do CIDE embutido no diesel que as locomotivas usam, assim ele passou a extrair dinheiro das ferrovias ao invés de investir nela. E o governo não devolveu nenhum centavo em investimentos ferroviários, assim o dono privado só pode é largar as partes menos rentáveis e tocar porcamente o resto.

Depois a Ferroban foi vendida pra ALL, que tem também as ferrovias de RS, SC e MS e toca o negócio um pouco melhor que a Ferroban e diminuiu os acidentes e aumentou a eficiencia do sistema, mas o problema foi o sistema de privatização adotado, que desde o início estava fadado ao desastre. Privatizar ferrovias dando grantes bloco para o total monopólio de uma só empresa privada é um sistema imbecil e descabido que nunca funcionou em lugar nenhum do mundo. Seria como privatizar todas estradas do estado num bloco só e ainda exigir uma grande outorga anual do contratante. Ele iria fazer o que a Ferroban fez: dar manutenção porca pras estradas grandes e abandonar completamente as menores que dão menos lucro, causando um desastre e um colapso da malha devido ao sistema monopolista criado.

O sistema correto é o governo não extrair dinheiro das ferrovias e sim investir nelas. Investir da infra-estrutura básica de trilhos e deixar a ferrovia aberta para empresas privadas realizarem o transporte de carga, havendo livre concorrência entre elas. Para os serviços de passageiros o ideal é o governo ter uma empresa própria para isso.

Eu estudei esse assunto a fundo e tenho tabelas no meu blog para provar com dados reais:

http://felipemonteirodecarvalho.blogspot.com/2010/01/cide-ipva-e-quem-paga-pelas-rodovias.html

Em 2007 o governo sugou 1,1 bilhão de reais das ferrovias enquanto que ele subsidiou as rodovias federais em 0,9 bilhões de reais. Assim o investimento líquido total do governo em transportes terrestes foi de -0,2 bilhões ... um absurdo, na Europa o estado investe quantias enormes em transportes terrestes. Assim quem é culpado pelo alto custo de frete, pelo desequilibrio modal, pelo abandono dos trens de passageiros e pelas 40.000 mortes nas estradas por ano é o próprio governo. Bastaria um governo serio para mudar esse quadro, investir focando em tornar o país mais competitivo ao invés de focar em idéias ultrapassadas marxistas de cotas raciais, MST, direitos humanos para os bandidos, etc. Se tivessemos um governo honesto conservador de direita, o Brasil poderia ter um ciclo forte de crescimento e prosperidade como muitos outros países experimentaram, sendo o exemplo mais gritante e recente a Coréia do Sul, que saiu da miséria para ser um país de 1o mundo enquanto que o Brasil ficou patinando sem sair do lugar devido a prisão mental esquerdista.